Durante um certo período da minha vida, eu me orgulhava de trabalhar o dia inteiro e não ter férias. Achava incrível contar que cursava dois cursos superiores ao mesmo tempo. Sou o tipo de pessoa agitada, que sempre procura algo novo pra fazer.
Leio mais de um livro ao mesmo tempo e tenho o péssimo hábito de acelerar a velocidade dos vídeos. Mas, sempre que alguém me perguntava como eu estava, a resposta era a mesma: cansada.
A necessidade de ser sempre produtiva era desgastante. Foi aí que eu conheci o movimento slow e decidi mudar o ritmo. O mundo está cada vez mais rápido, mas será que nós realmente precisamos acompanhar essa velocidade? A vida é apenas uma só.
Há um tempo atrás, eu publiquei um texto sobre slow blogging e muitas pessoas entraram em contato comigo para compartilhar suas opiniões sobre o tema. Atendendo a alguns pedidos, decidi escrever sobre o slow content.
O que é slow content?
Quando falamos no movimento slow, estamos nos referindo à desaceleração das coisas, algo praticamente impensável na rotina da maioria de nós. Conteúdo lento é isso.
Diariamente, sou procurada por clientes que querem publicar textos enormes e técnicos todos os dias, em vários canais diferentes, para conseguirem vender. Além de maçante, são raros os que realmente querem pagar por tais serviços, que demandam horas de trabalho.
A questão é que não adianta nada publicar simplesmente para aparecer. As pessoas buscam por autenticidade. Claro, você precisa manter a consistência dentro do possível, mas a produção de conteúdo não pode ser uma obrigação.
Você não precisa fazer um número X de postagens diariamente para alcançar seus objetivos. É possível, sim, criar um cronograma realista e, mais que isso, humano. Seu conteúdo precisa fazer sentido para o seu público, mas também pra você.
O que mais vai importar é a história que você está contando. Como ela conecta com quem está lendo? Como ela transforma o outro? Valorize todas as etapas do processo de produção.
Enquanto uma empresa tradicional publicaria um único post sobre um determinado assunto, uma marca que pratica o slow content vai conseguir produzir diversos conteúdos relacionados ao tema, porém aprofundando melhor as ideias.
Para Sue Coutinho, especialista em marketing consciente, “podemos entender o Slow Content não como uma ferramenta, mas uma alternativa, um estilo de vida, um conjunto de ideias e acordos que fazemos com as nossas escolhas individuais para uma rotina coletiva mais consciente”.
E os algoritmos?
Lembre-se que, quando produzimos, nosso foco são as pessoas. São elas quem vão compartilhar seus conteúdos e comprar o que você oferece. Por isso, dê mais importância à qualidade do que à quantidade.
Recentemente, eu me desafiei a produzir num ritmo mais lento. Confesso que não está sendo nada fácil. Em contrapartida, agora estou cuidando mais de mim, aproveitando melhor as pessoas que eu amo, lendo e estudando mais.
Sugestão de leitura
Não posso deixar de finalizar sem recomendar uma das minhas últimas aquisições.
Como se encontrar na escrita, Ana Holanda
A Ana é uma jornalista e escritora sensacional, aquela pessoa que te encanta com as palavras. O livro é sobre escrita afetuosa e com certeza é indispensável para quem escreve na internet, mas aborda muito mais que isso. Nós aprendemos a olhar a vida de outra forma. Com mais atenção, mais calma, mais verdade.
E você, já produz conteúdo lento? Saiba mais sobre esse tema lendo meu artigo de TCC da pós-graduação, publicado em 2021 no Intercom: “O Slow Content como uma Alternativa às Condições de Produção de Conteúdo Aceleradas“.
Pior que coloquei o navegador para ler seu artigo em velocidade mais rápida 😅. Mas concordo com suas palavras, produzir conteúdo de forma lenta é bem melhor. Você tem mais tempo para pensar e ainda é faz bem para a saúde não fazer tudo acelerado.
Eu era redator/blogueiro, agora me formei em Design Gráfico e percebo a mesma coisa acontecendo nessa área. Vejo muita gente que cobra barato e às vezes até conseguem bastante trabalho, porém acaba tendo de fazer de qualquer jeito, pois não há muito tempo para elaborá-lo. Do outro lado, há pessoas que podem até ter menos clientes, porém o valor é outro, com mais tempo para criar, a qualidade é melhor.
Tenho certeza que você não foi o único, Vinicius 😅 muito obrigada pelo comentário!
Realmente, concordo com você. Já trabalhei em agências de comunicação e percebo que muitas vezes nós que atuamos nessa parte mais criativa somos extremamente pressionados a entregar os jobs com certa velocidade.
Alguns clientes não entendem que uma arte ou um texto mais elaborado levarão mais tempo para ser produzidos. Infelizmente o mercado ainda exige mais quantidade do que qualidade, mas acredito que no futuro o slow vai ter mais espaço.
De fato, os profissionais mais valorizados atualmente são justamente os que atendem menos clientes, mas fazem um trabalho tão bom que conseguem cobrar mais por isso.