Até que a morte nos separe – parte 3

Última parte do conto policial Até que a morte nos separe, escrito para o projeto "Em um mês, um conto".

Este conto policial foi escrito para o projeto Em um mês, um conto.

A antologia completa, As Faces do Crime, pode ser adquirida como livro físico e também em formato de e-book.

Aproveite a leitura!

A antologia completa, As Faces do Crime, poderá ser adquirida como livro físico e também em formato de e-book a partir de maio.

Aproveite a leitura!


— Não acredito que nenhum desses vizinhos chamou a polícia antes…

Novamente, Diego não se conteve.

— É, pelo visto ninguém tá a fim de dedurar o prefeito. Não quero nem imaginar o que mais acontece por aqui. Já ouvi alguns boatos…

— Boatos?

— É, porra, boatos. Você sabe que eu adoro encher a cara depois do serviço e bêbados adoram falar mais do que deviam…

— O que você escutou?

— Isso não interessa agora…

— Não?

— Que pressão é essa? Ele é o prefeito, cara, acha mesmo que só tinha olhos pra Ana? Até onde eu sei, ele aproveitava bastante as viagens que fazia “a trabalho”.

— Como assim aproveitava?

— Não é possível que você seja tão inocente… Soube que ele saía com muitas mulheres, algumas até menores de idade.

— Caralho!

— É, e tem mais… Há quem diga que ele já se envolveu com tráfico e foi visto usando algumas pílulas por aí. Acho que pensava que ninguém ia descobrir sua identidade se estivesse em outra cidade. Ou só queria aparecer mesmo, foda-se.

— Foda-se?

— É, foda-se. Nada disso importa perto de um assassinato.

— Você acha que ele matou?

— Talvez. E você?

— Talvez.

Os dois se calaram quando, repentinamente, Paulo desligou o telefone. Deu um gole e terminou o restante de vinho que restava na taça antes de quebrá-la em uma das paredes. Então, sem mais nem menos, saiu da sala. Quatro minutos se passaram até que ele voltasse, com alguns produtos de limpeza.

Agora era a hora, não havia mais tempo para pensar. Se ele estivesse tentando esconder algo que fez, precisavam impedi-lo e a única maneira de fazer isso era entrando na casa sem que ele percebesse.

Estavam cada vez mais perto da porta. Marquinhos encostou na maçaneta e sentiu um calafrio. Olhou para trás e, por breves segundos, se sentiu bem por estar com seu amigo e não sozinho.

— E aí, você vem?

— Claro, Marquinhos, tô atrás de você.

Abriu a porta e começou a perseguir a luz a passos lentos. Conseguia sentir o cheiro forte de sangue, que se misturava com os odores de álcool e alvejante. Respirou fundo e seguiu até a entrada da sala.

O homem estava tão imerso tentando limpar o chão ao lado do defunto que nem percebeu a chegada dos dois homens ali. A cena era horrenda. A mulher estava largada ali, descalça e de camisola, com os olhos arregalados como se não acreditasse no que havia acontecido.

Seus cabelos estavam despenteados e a maquiagem borrada em seu rosto. O que mais chamava atenção, obviamente, era a cor vermelho vivo que destacava-se em suas vestes. Um tiro no peito.

Não havia dúvidas de que estava ali há muito tempo, pois o sangue estava seco e sua pele extremamente pálida, como nunca viram antes. Justamente por isso que Paulo estava demorando tanto com aquela atividade, pois claramente era a primeira vez que limpava algo e a textura não ajudava.

O desgraçado deve ter esperado horas antes de fazer a ligação. Provavelmente cometeu o ato por impulso durante alguma briga e depois não soube como agir. No impulso, ligou pro amigo diretamente no telefone da delegacia, sem perceber a idiotice que estava cometendo ao denunciar o crime para a polícia.

Foi quando Diego esbarrou em um dos móveis que Marquinhos anunciou sua presença, com a arma apontada para o criminoso. Queria esperar mais um pouco, mas era agora ou nunca.

— Parado, Paulo! Nós vimos tudo, você vem com a gente.

— Vou é?

— Não deixe isso mais complicado do que é… Você matou sua esposa e agora vamos algemá-lo até a delegacia.

— Garoto, você se esqueceu de quem eu sou?

— Pra te falar a real, eu não dou a mínima. Um homem que mata a esposa não passa de um cuzão.

— Cuzão? Essa vagabunda me traía há anos! Eu nunca nem imaginei… O que você queria que eu fizesse?

— E você não fazia o mesmo? Me poupe dessa ladainha. As pessoas falam, Paulo. Todo mundo sabe que você pegava qualquer uma quando saía por aí.

Agora o prefeito fora pego de surpresa. Até então, pensava que ninguém sabia de nada. A quem ele queria enganar? Era óbvio que em algum momento saberiam. E, se os outros sabiam, Ana deveria saber…

— Pois então eu vou assumir minha responsabilidade, do meu jeito.

O que se passou a seguir foi tão rápido que nem Marquinhos nem Diego conseguiram reagir. Paulo pegou a arma, encostou-a em sua própria cabeça e apertou o gatilho. Seus miolos se espalharam por todo canto enquanto seu corpo caía sobre a vítima.

Era isso. Os dois policiais permaneceram parados por um longo tempo até que o celular de Marquinhos começou a tocar.

— Carla?

— Vocês dois estão bem? O Antônio não atendeu minhas ligações e você não me avisou nada!

— Nós estamos, mas o Paulo…

— O que aconteceu?

— Ele está morto?

— Morto?

— Sim. Vimos que ele queria se safar e entramos. Cometeu suicídio quando nos viu.

— E agora?

— Acabou. Não podemos fazer mais nada aqui.

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Amanda Pereira Santos
Publicitária, escritora, professora, consultora, palestrante, especialista em Influência Digital: Conteúdo e Estratégia, especialista em Marketing, Branding e Experiência Digital, com MBA em Comunicação e Eventos, MBA em Marketing Estratégico e Mestrado de título próprio em Comunicação Empresarial e Corporativa. Como docente, já ensinou Branded Content: Marketing de Conteúdo, Redação Publicitária, Marketing Digital para escritores e Estratégia de Design de Negócios.
Artigos: 42

2 comentários

  1. Amei demais! Sua escrita é ótima e fluida, foi muito agradável a leitura. Só me restou revolta com esse Paulo… E saber que esse tipo de crime acontece sempre na vida real. Triste!

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