Revolta na Capital – parte 1

Leia a primeira parte do meu conto de ficção científica!

“Revolta na Capital” é um conto de ficção científica escrito para o projeto Em um mês, um conto. As partes II e III serão publicadas nos dias 20 e 27 de maio, respectivamente.

A antologia completa poderá ser adquirida posteriormente como livro físico e também em formato de e-book.

Aproveite a leitura!


— Corra!

Uma única palavra. Foi tudo o que eu ouvi há seis anos, poucos minutos antes que minha família fosse assassinada a sangue frio. Se estou viva hoje é porque fugi e não olhei para trás. 

Não sei quem me disse para ir embora, mas obedeci sem pensar duas vezes. Saí pela porta dos fundos e corri. Foram dois tiros e nada mais. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, mas não parei.

Nunca mais os vi. Estou sozinha desde então. Vivendo às sombras.

Ainda assim, o momento nunca saiu da minha cabeça e é minha motivação para prosseguir. É ele que me incentiva a procurar os monstros que invadiram nossa casa e afastaram de mim as únicas pessoas que eu tinha.

Agora, o ano é 2121.

E o mundo não é mais o mesmo que costumávamos conhecer. Na verdade, essa é a única realidade que eu conheço. Mas já escutei histórias sobre o passado. Sei que tudo era diferente. Ainda somos humanos, mas não somos mais os mesmos. 

O nosso planeta está em guerra. 

Nacionalidade, sexo, idioma e cor da pele não importam mais. Em sociedades vigiadas por governos autoritários, todos são inimigos. Simplesmente não podemos confiar em ninguém. 

Tudo começou quando alguns bilionários se uniram a políticos com o objetivo de lucrar mais, ainda no início dos anos 2000. Mulheres, homens e crianças precisam lutar por sobrevivência. 

Com os avanços tecnológicos, quem detinha o poder passou a controlar o restante das pessoas. Logo, a substituição de pessoas por máquinas tornou-se cada vez mais comum. Quem não tem voz não existe.

Pouco a pouco, o desemprego foi aumentando e a pobreza também. Livros tornaram-se cada vez mais escassos. Artistas presos. As empresas, por outro lado, faturavam quantias exorbitantes.

No país em que eu nasci, o Brasil, a desigualdade já era um problema há bastante tempo. A situação apenas piorou drasticamente. Os ricos estão mais ricos. E os pobres? Mais pobres.

Inicialmente, a população não sabia de nada. Haviam rumores, claro, mas nada fora confirmado pelas autoridades. A mídia, por outro lado, omitia tudo e apoiava os discursos mentirosos. O conhecimento tornou-se direito de poucos.

Obviamente, organizações de oposição foram surgindo. Pessoas que sabiam o valor da arte e da educação. Entretanto, muitos foram descobertos e perseguidos pela polícia local. Outros simplesmente desapareciam. 

Meus pais optaram por rebelar-se contra tudo o que vivíamos e resistir ao que era imposto. Mamãe era escritora. Já papai era músico. Ambos criticavam nossos políticos em suas produções.

E foram bem sucedidos. Até o dia 27 de abril. Estávamos em casa quando os militares nos encontraram. Um almoço qualquer de domingo. Não me recordo qual era o assunto da nossa conversa.

O que não consigo esquecer é a imagem da porta sendo destruída, com um barulho estrondoso. Um grupo de sete homens e robôs entraram na nossa pequena sala, as armas apontadas para nós.

E então…

“Corra!”

Jurei a mim mesma que mataria aqueles que assassinaram meus pais e, principalmente, quem deu a ordem. Irei acabar com a vida da Grande Líder, custe o que custar. 

É essa a missão que escolhi para a minha vida e não vou parar até concretizá-la. Foi com isso em mente que cheguei à Capital mascarada dos pés a cabeça, com um litro de veneno em uma garrafinha suja e munida de alguns rifles. 

E, é claro, de meus equipamentos eletrônicos. 

Talvez você ainda não saiba, mas sou uma das hackers mais procuradas do território. A melhor programadora da região. Não é por menos que um dos meus passatempos prediletos é invadir o sistema governamental em busca de informações confidenciais e furos em esquemas de corrupção. 

Doideira, né? Mulher, latina, órfã e apaixonada por tecnologia. Prazer, sou Tainara.


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Amanda Pereira Santos
Publicitária, escritora, professora, consultora, palestrante, especialista em Influência Digital: Conteúdo e Estratégia, especialista em Marketing, Branding e Experiência Digital, com MBA em Comunicação e Eventos, MBA em Marketing Estratégico e Mestrado de título próprio em Comunicação Empresarial e Corporativa. Como docente, já ensinou Branded Content: Marketing de Conteúdo, Redação Publicitária, Marketing Digital para escritores e Estratégia de Design de Negócios.
Artigos: 42

20 comentários

  1. Amanda, eu adorei a primeira parte do seu conto! Especialmente o trecho “Nacionalidade, sexo, idioma e cor da pele não importam mais. Em sociedades vigiadas por governos autoritários, todos são inimigos.” Fiquei agoniada lendo as mudanças na sociedade porque parece um futuro muito possível… Já estou ansiosa para ler mais sobre a Tainara!

  2. “Quem não tem voz não existe.” Essa frase me deixou arrepiada! Muito bom, acredito que será uma história emocionante. Mesmo acabando de conhecê-la, já tenho uma boa impressão da Tainara, como uma mulher forte e que nada contra a maré. Muita coisa para se refletir sobre esse futuro!

  3. Parabéns Amanda. Seu futuro é bem possível, infelizmente. Tomara que nós consigamos interromper essa esteira. Me lembrou muito 1984 do George Orwell. Ao mesmo tempo em que seu conto me gerou revolta, me deu esperança. Ansiosa aguardando a segunda parte.

    • Muito obrigada, Liliane, sigamos lutando para evitar que a ficção vire realidade! Fico feliz em saber que gostou e te deu esperança, acredito que você vai gostar bastante do desdobramento da história 👀

  4. Caraca! Me apaixonei. Quero ver o Grande Líder cair. Adorei o fluir do texto, quando vi acabou…
    Parabéns! Muito bem escrito.

  5. Amanda, adorei, consegui visualizar cada pedacinho da história!
    Estou bem ansiosa pela continuação!

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