Revolta na Capital – parte 2

Leia a segunda parte do meu conto de ficção científica!

“Revolta na Capital” é um conto de ficção científica escrito para o projeto Em um mês, um conto. A parte III será publicada no dia 27 de maio.

A antologia completa poderá ser adquirida posteriormente como livro físico e também em formato de e-book.

Aproveite a leitura!


Estou aqui para acabar com as hierarquias. Pretendo matar aqueles que um dia roubaram vidas para chegar ao poder e incitar a desordem. E não, eu não me importo se isso significar a minha morte. 

E aí, vem comigo?

A primeira coisa que notei ao andar pelas ruas de lá foi a miséria. Dezenas de cidadãos estavam esparramados pelas calçadas, implorando por centavos a qualquer um que passasse por ali.

— Por favor, moça, ajude!

Meus olhos lacrimejaram ao olhar para uma mãe com duas crianças. A aparência dos três era péssima. Magros, sujos e trajando vestes rasgadas que pareciam ser mais velhas que seus proprietários.

Entreguei-lhe uma moeda de prata. Em retribuição, ganhei uma cuspida na cara.

— É só isso que você tem? Vadia!

A raiva tomou conta de todo o meu ser. Respirei fundo e contei mentalmente até dez, apertando o passo. Não queria perder meu tempo brigando e correndo o risco de ser desmascarada.

Mas não nego que aquela mulher merecia um murro.

Se você acha que é fácil se manter sendo uma jovem sem teto, está se iludindo. Já dormi em lugares nojentos e passei dias sem comer. Diariamente, quando fecho os olhos, meu maior medo é encontrar um homem ao meu lado ao acordar.

Aconteceu uma vez. 

Não consegui evitar que ele colocasse suas mãos imundas em mim. Também não consegui evitar quando as minhas mãos puxaram o canivete do bolso lateral da mochila e enfiaram o objeto em suas bolas. 

O sangue escorria rápido e preferi não esperar para ver o resultado.

“Nunca confie em ninguém, querida, nem em si mesma.”

Era o que mamãe me dizia todos os dias antes de deitar. Sei que ela sabia que um dia não estaria mais lá. Eu também sabia. Foi o melhor conselho que já recebi. Afinal, continuo viva.

Lembrei de sua voz falando comigo enquanto caminhava até o Palácio Principal, onde sabia que encontraria a Grande Líder. Imaginei que já estava próxima quando encontrei uma estátua de ouro maciço com a figura da mulher que eu buscava. Uma mulher forte, imponente. 

Não será fácil matá-la.

Parei em um beco vazio próximo a um setor residencial onde havia menor movimentação e retirei meu tablet da mochila. Assim que liguei o dispositivo, um convite para uma videochamada surgiu na tela. Aceitei e vi o rosto tão familiar.

— Carla! 

— Achei que você estava morta, garota! Por que não me avisou nada?

Caso eu ainda não tenha mencionado, a Carla é minha melhor amiga. A segunda hacker mais foda aqui da região. Depois de mim, obviamente. Foi ela quem me ajudou a planejar os assassinatos, mas preferi vir sozinha e não envolvê-la. 

Enfim, voltemos à nossa conversa.

— Eu sei que você não concorda com as mortes… Você já me ajudou, é justo que eu faça isso sozinha.

— Justo? Nada disso é justo, Tainara… Mas e aí, está tudo bem? Como você chegou à Capital sem levar um tiro no meio da cabeça?

—  Longa história, querida. Digamos que eu invadi o sistema de segurança e alterei as imagens das câmeras de todas as ruas pelas quais eu passei. 

— Uau! Se você voltar viva, precisamos beber umas cervejas pra comemorar, hein? 

— Eu vou voltar, Carla. Vai dar tudo certo. Na verdade, quero te pedir um favor.

— Claro, diz aí. 

— Preciso que você acesse todos os dispositivos do Palácio Principal.

— E? 

— Descubra onde a Grande Líder vai estar hoje à noite. 

— Ok, estou entrando na rede. 

— Quanto tempo demora?

Perguntei por pura implicância, pois sabia que seria rápido.

— Ela convidou os representantes dos distritos para um jantar no Salão de Ouro do Palácio. Será às oito horas.

— Todos? Os 27 estarão lá? 

— É o que diz aqui. 

— Essa é minha chance, Carla, vou matar todos eles!

— Tá maluca? Eles vão te matar em segundos, isso sim. Espere até amanhã. 

— Você não entende… Esperei por isso a vida toda. 

— Por favor… 

— Preciso ir, me deseje sorte!

Desliguei antes de ouvir qualquer resposta. Era melhor assim.


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Amanda Pereira Santos
Publicitária, escritora, professora, consultora, palestrante, especialista em Influência Digital: Conteúdo e Estratégia, especialista em Marketing, Branding e Experiência Digital, com MBA em Comunicação e Eventos, MBA em Marketing Estratégico e Mestrado de título próprio em Comunicação Empresarial e Corporativa. Como docente, já ensinou Branded Content: Marketing de Conteúdo, Redação Publicitária, Marketing Digital para escritores e Estratégia de Design de Negócios.
Artigos: 42

12 comentários

  1. Amanda, seu conto está ficando cada vez melhor e mais emocionante! Eu já sou muito fã da Tainara hahaha Fiquei arrepiada com o momento em que ela dá um trocado à mulher na rua, e é “atacada” por não ser o suficiente. Muito forte e marcante!

  2. Conseguiu uma segunda parte mais cativante que a primeira. Quando desligou a videochamada, eu não estava preparada pra terminar a leitura.
    A parte da esmola foi muito boa.
    Parabéns!

  3. Gostei muito da continuação, a ambientação tá muito legal, e a personagem tá muito viva. A gente vê o mundo pelas dores dela, muito bom.

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